domingo, 31 de agosto de 2014

Apenas um talvez...

Talvez a renovação da fé necessite dos seguintes passos:

1.Acreditar que Deus é uma presença real (porém  um Deus vivido a cada dia no milagre da vida e das oportunidades que se nos oferece e não um Deus antropomórfico - que ama, odeia, se vinga, mata, se arrepende, faz accepção de um povo em detrimento aos outros - ou um Deus maniqueísta - que castiga os maus e dá presentes aos bons a partir de uma natureza criada a partir de si mesmo, sua imagem e semelhança).

2.Aproveitar as velhas tradições bíblicas, e de outras formas de apreender Deus - como as religiões orientais - e evoluir no pleno conhecimento da essência divina, descartando os preconceitos que fazem  com que as religiões "reveladas" - cristianismo, judaísmo, islamismo -  se transformem em bunkers (casamatas) contra as que professam diferentes formas de adoração.

3.Partir do princípio real do cristianismo baseado nas atitudes e palavras de Jesus, e não na interpretação de Paulo (amigo de Roma, e que criou uma doutrina para alçar aquela nova fé no Homem de Nazaré à condição de religião universal, bem ao gosto das pretensões imperialistas romanas, posteriormente manipulada, com muita habilidade, pelo imperador Constantino ao transformar o "caminho" numa estrutura de poder e dominação.

4.Acreditar que Jesus nos trouxe uma mensagem real de compaixão, solidariedade e fé, e que com esta mensagem extremamente simples ele transformou o pensamento e as atitudes de sua época (tão simples era esta mensagem que  Paulo e João evangelista precisaram carregar numa teologia grandiosa, diferente da vida simples levada por Jesus e bem ao gosto do pensamento imperialista dominante, transformando-o em: Verbo e Filho de Deus, Absoluto, Magnífico, Príncipe, Rei, Salvador, o próprio Deus na Trindade, o Ressurreto - que venceu a morte, Aquele que está "à destra de Deus" e reina eternamente...). Não é difícil perceber a semelhança com o culto ao "divino" César e divindades pagãs da época - na estrutura e na inspiração.

5.Crer que Jesus nos deixou a mensagem de que Deus é real (quando na sua época só o que havia era desesperança e desespero) e que para se chegar à Ele é necessário simplesmente um "NOVO NASCIMENTO", da água (pureza, nos propósitos, nas atitudes e no tratamento) e do Espírito (compromisso real com Deus, disposição em mudar, em se transformar em alguém útil ao próximo - e consequentemente à sociedade).

Alerta: estes passos, aparentemente simplórios, são mais difíceis de se viver do que simplesmente aceitar a velha fórmula de salvação pela graça ensinada por Paulo. Talvez por isso os apóstolos, após a morte do mestre, vinculavam a salvação aos "frutos do Espírito" - que são obras, atitudes - e não a uma fé simples e, muitas vezes, descompromissada.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Experiência da morte


No livro de Eclesiastes está escrito: "Quem sabe que o fôlego do homem vai para cima e o dos animais vai para baixo da Terra?" (Ecl. 3:21).

Recentemente vivi uma experiência de "quase morte". 
Me submeti a uma intervenção clínica e precisei ser totalmente sedado.
Após receber a injeção com o sedativo tentei ficar o mais alerta possível para perceber o momento em que ia entrar no sono profundo. Não consegui.
Cerca de uma hora depois estava acordando aos poucos, zonzo, recobrando a consciência.
Impressionante este lapso de tempo em que NADA passou a existir para mim!
Eu mesmo, enquanto consciência, deixei de existir!
O tempo e o lugar deixaram de existir!
Enquanto as pessoas circulavam ao redor do meu corpo, eu simplesmente NÃO ESTAVA LÁ!
Eu estava em LUGAR NENHUM. Era como se nunca tivesse nascido.

Cristo ressuscitou!

Segundo Paulo, esta é a esperança da nossa fé. "Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé e a nossa pregação", afirmou.

Biologicamente o processo de ressuscitação é algo antinatural. As intervenções no corpo para uma restauração completa (e complexa) dos sistemas biológicos é algo que hoje só é possível de acreditar negando-se todo e qualquer saber humano na área da ciência.

Os judeus acreditavam na ressurreição do Estado Judeu (o vale dos ossos secos no livro de Ezequiel), não na ressurreição do corpo individual.

Foram os gregos que introduziram a noção de que o homem é composto de corpo e alma como unidades distintas (ainda que interligadas) e que a alma tem vida eterna.

Posteriormente uma seita judaica, a dos fariseus, incorporou a noção da ressureição pós morte (em oposição a outra seita - a dos saduceus - que não acreditavam).

Jesus, judeu confesso, Aquele que veio para "as ovelhas perdidas da casa de Israel", trouxe uma mensagem de ressurreição espiritual para o povo judeu baseado no estabelecimento do esperado (pelos judeus) Reino de Deus na Terra, não em um lugar distante, mas AQUI e AGORA: "dos que aqui estão alguns não provarão a morte antes que vejam vir o Reino de Deus".

Há uma parábola interessante na Bíblia (João capítulo 3): o encontro
de Jesus e o "mestre" Nicodemos.

Nicodemos quer saber como herdar o Reino de Deus. Jesus afirma: "Na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus" (João 3:3).

Seria um caso de ressurreição do corpo? Entrar no ventre da mãe e voltar a ser um bebezinho?

Se a história, relatada por João, terminasse aqui, certamente estaríamos especulando hoje se este "novo nascimento" enseja um ato sobrenatural: voltar a ser bebê.

Mas João continua com o relato e então ficamos sabendo que Jesus estava usando uma parábola (alegoria) para falar de coisas espirituais, e não terrenas.

Diante da ingenuidade de Nicodemos Jesus, pacientemente e cheio de compaixão, explica: "Na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus" (3:5).

Não era sobre coisas sobrenaturais que Jesus falava, mas espirituais.

Novo nascimento, assim como ressurreição, são processos espirituais: a água significa a pureza, o Espírito a renovação do velho homem a partir de uma relação íntima com Deus.

Não é Cristo quem precisa ressuscitar, mas NÓS (assim como não é Cristo quem precisa nascer de novo).

Ainda que pacientemente, Jesus ironiza aquele homem culto, devoto, porém tolo: "Tu és MESTRE de Israel e não sabes disso?" (3:10)...

JESUS NÃO INSULTA NOSSA INTELIGÊNCIA.

Acreditar que um homem pode ressuscitar em corpo após a morte é o mesmo que acreditar que ele pode nascer de novo voltando ao útero materno.

Jesus poderia estar nos dizendo: Vocês são tão inteligentes, avançaram tanto nas ciência, no conhecimento biológico do processo da vida e da morte, e ainda acreditam nisto?

Há outra história para ainda entender melhor: No livro de Mateus, o autor afirma que "as estrelas e o sol cairão..." na vinda do Filho do Homem.

Para um homem de sua época, acostumado a ver o sol "cair", se "levantar" e fazer uma órbita circular sobre sua cabeça todos os dias, nada mais natural que acreditar que o sol está preso por algum fio invisível no céu e que um dia esse fio possa se romper e ele, literalmente, caia.

Copérnico (e posteriormente Galileu) mostraram à igreja que a Terra não é o centro do universo e que também não é o sol que gira em torno da Terra

Não fazia mais sentido afirmar que o sol se move no firmamento em relação à Terra, pois é justamente o contrário.

Se o autor de Mateus fosse fazer uma revisão de seu texto nos dias de hoje, certamente não desprezaria esta importante descoberta científica.