terça-feira, 27 de novembro de 2012

DEUS NO CENTRO!

Existem 3 conceitos básicos que melhor expressam a relação do homem com Deus, historicamente:

HETERONOMIA (héteros=outro; nomos= leis) Neste período, que tem início na antiguidade até meados do século XVI, prevalece a idéia da existência de "outro" mundo, acima do nosso, distante, de onde provêm toda a revelação de Deus, portanto imutável, infalível, inquestionável. É deste mundo que "descem" os preceitos, as leis e os dogmas estabelecidos pela santa igreja. Sob esta concepção são estabelecidas as bases da ortodoxia: hierarquia, indulgências, estrutura de poder, infalibilidade papal. A piedade divina se revela "do céu" para trazer salvação aos miseráveis que vagam perdidos e cegos "na terra".

AUTONOMIA (autós=própria; nomos= leis) A partir do século XVI, com o humanismo, a evolução das ciências e, posteriormente, o iluminismo, o homem passa a reivindicar seu direito de ser agente de seu destino; descobrir, questionar, ousar. Muitos dos fenômenos físicos que se acreditava piamente ser a manifestação da ira de Deus (como o raio e o trovão) era, na verdade, um processo da natureza perfeitamente mensurável. A idéia de "céu", habitat dos anjos e demônios, já não encontra mais lugar no pensamento racional desta época. Ao invés de um diálogo entre a fé e a razão, esta fase inaugura sua inimizade histórica com a recusa, da igreja, em aceitar rever seus dogmas infalíveis que lhe valeram a posição de autoritarismo e poder absoluto.

TEONOMIA (théos=deus; nomos=lei) É considerado o pensamento moderno. Após abandonar a velha fórmula da ação divina à partir de um mundo "acima" do nosso, assim como a tentativa da ciência em negar a fé na existência e ação de Deus, a teonomia concebe a idéia de que Deus não está longe (no céu) e nem fora dos processos da vida, mas no CENTRO de toda ação: "Ele é o núcleo criador mais profundo de todo processo cósmico."(1)





(1) LENAERS, Roger - "Outro cristianismo é possível - a fé em linguagem moderna", ed. Paulus, p.27

sábado, 24 de novembro de 2012

BÍBLIA, BIBLIOTECA!

Alguns textos bíblicos não coincidirem no relato de certos episódios relativos a Jesus. Eles até se contradizem algumas vezes.

Há um grande distanciamento histórico-cultural entre o período em que foram escritos cada livro e deles em relação ao seu personagem principal: Jesus:

1-As Cartas de Paulo, escritas cerca de 50 d.C.
2-Evangelho de Marcos, 65 d.C.
3-Evangelhos de Mateus, Lucas e os Atos dos apóstolos, 80 d.C.
4-Evangelho de João, entre 90-95 d.C.

Estes autores não escreviam a "bíblia" como a conhecemos hoje, mas apenas cartas de recomendações, impressões pessoais de relatos ouvidos das tradições que circulavam pela palestina muito tempo depois de Jesus ter morrido. 

Eles viviam fora da palestina (eram gregos ou romanos), falavam uma língua diferente daquela do tempo de Jesus (aramaico) e tinham uma visão helenizada do mundo (mitológica, filosófica), diferente da visão judaica original.

Ler a bíblia, portanto, deve ser considerá-la um conjunto de escritos destes autores com suas visões,    pontos de vista e propósitos diferentes (sem qualquer compromisso em serem compêndios de história da vida e religião de Jesus, como não poderia deixar de ser), baseados nas tradições orais de diversos grupos cristãos de analfabetos, pobres, humilhados e oprimidos pelo império romano e sem qualquer expectativa quanto ao seu futuro e de suas famílias, que professavam sua fé em princípios entendidos como os mais próximos que se poderia entender da essência da proposta do Mestre para a sua salvação.

É tarefa do cristão moderno entender a revelação da mensagem de Cristo, registrada de forma muito pessoal por estes autores, e descobrir a verdade escondida por trás da mitologia, da cultura de época, que não encontram mais lugar na modernidade, mudando o foco dos símbolos do passado e colocando-o na essência por trás destes símbolos.

O cristão deve "prosseguir em conhecer Jesus... sempre".


sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A BÍBLIA HISTÓRICA

"Em quase todos os principais seminários protestantes (e agora católicos), a Bíblia é abordada segundo o método chamado de "histórico-crítico". É algo completamente diferente da interpretação "devocional" da Bíblia aprendida na igreja"(1).

Sempre me devotei a ler a bíblia como um "oráculo", a revelação inequívoca de Deus mostrada em cada letra e cada vírgula.

Nunca havia me permitido questionar se Deus poderia ter inspirado Sua mensagem JUNTO com o homem (horizontalmente) e não DE CIMA PARA BAIXO (verticalmente), como era a visão da igreja ortodoxa a partir do IV século e que prevaleceu, ostensivamente, durante toda a idade média para justificar a doutrina da infalibilidade da grande igreja e seus prelados.

É comum os devotos abrirem a bíblia, ao acaso e como se fosse um sorteio, e dizerem que a página onde abriu tem uma revelação de Deus para resolver um problema em particular, ou um pedido ansiosamente aguardado, ou ainda uma benção especial. Outros se fixam apenas nas promessas e nos poemas.

Talvez, para a maioria dos cristãos hoje, essa forma de leitura seja suficiente pois vêm ao encontro de suas necessidades imediatas, mas para quem busca na Escritura a VERDADE, não deve ser assim.
A leitura segundo uma perspectiva histórico-crítica revela uma bíblia muito mais rica, mais diversificada, mais reveladora do Amor de Deus do que a leitura exclusivamente devocional.

Os cientistas não param de pesquisar, descobrindo novas formas de cura das doenças, do aumento da expectativa de vida do homem moderno, de enxergar o universo como um maravilhoso campo de inteligência e perspectiva para melhorar a vida.

Porque não fazer o mesmo com a mensagem do evangelho?

(1) EHRMAN D. Bart, Quem foi Jesus? Quem Jesus não foi? - Ediouro, p.16

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A VERDADE SEMPRE LIBERTA!

Sempre lemos os textos bíblicos: "CONHECEREIS A VERDADE, E A VERDADE VOS LIBERTARÁ" e "Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e SERÁ PARA SEMPRE".

Muitas vezes falamos que o Novo Testamento é o evangelho da salvação. Ora, a palavra "evangelho" significa BOAS NOVAS, algo novo, um testemunho de uma novidade BOA.

Porém tenho me perguntado se tem sido desta forma que o evangelho tem sido encarado no presente século. As perguntas na verdade são: 1. os símbolos e imagens do evangelho são adequados aos tempos modernos? Sua linguagem, como expressão de uma cultura e costumes de época, têm sido realmente apreendida como válida?

O evangelho é o porta voz do recado de Deus para as necessidades humanas, logo este recado deve ser sempre adequado ao contexto histórico de seu interlocutor, em outras palavras, o evangelho não pode ser aprisionado em uma época, uma cultura e tradições que findaram a centenas de anos. Ele deve ser requalificado, limpo, revisto e atualizado.

VERDADE É CAMINHO, NÃO DESTINO!
Pereira