sábado, 27 de setembro de 2014

Recontextualização

"Teologia Bíblica
Como outras disciplinas dentro dos estudos bíblicos, a teologia bíblica possui uma história complexa e controvertida.[71] Krister Stendahl, o ex-reitor da Harvard Divinity School, num artigo bastante citado do The Interpreter’s Dictionary of the Bible, afirma que os estudiosos deveriam distinguir entre “o que significou e o que significa”.[72] O pano de fundo de tal afirmação foi a conclusão de Stendahl de que a Bíblia é tão estranha à nossa cultura que somente a reinterpretação poderia mante-la viva. Jon Levenson também defende a legitimidade da “recontextualização” e da “reapropriação”, que afirma que um texto pode e deveria significar seja lá o que for que uma comunidade religiosa precise que ele signifique para se manter viva. Para Levenson, a recontextualização é legítima mesmo quando contradiz o que um autor pretendeu dizer a princípio."

http://rebeldiametafisica.wordpress.com/2013/01/31/por-que-os-estudos-biblicos-devem-terminar-critica-literaria-e-teologia-biblica/

domingo, 7 de setembro de 2014

A Escritura - Tradição Oral

Karen afirma:

"As Escrituras judaicas e o Novo Testamento começaram ambos como proclamações orais, e mesmo depois que foram postos por escrito (após o século VII a.C. com o movimento deuteronomista do rei Josias), restava muitas vezes uma tendência à palavra falada, presente em outras tradições."

Assim nasceu a bíblia: uma tradição oral que era passada de geração em geração sem, obviamente, qualquer compromisso com exatidão ou comprovação de fatos, apenas verdades sendo incutidas nas gerações posteriores com o fim de fomentar o nacionalismo e a religiosidade da nação israelense.

Karen continua:

"(...) as pessoas temiam que Escrituras "escritas" estimulassem a inflexibilidade e a certeza irrealista, estridente. O Conhecimento religioso não pode ser comunicado, como outras informações, pelo simples exame da página sagrada."

Quando a tradição oral de Israel passou a ser colocado no "papel", ela deixou de ser uma expressão de transcendência religiosa e passou a ser um documento, um contrato, frio e inflexível. Isto, certamente, introduziu, na religião, um conceito com o qual ninguém se preocupara antes: se o que está escrito é verdade ou não, é fato ou mito.

Esta passagem (da tradição oral para a escrita) não agradou a muitos anciãos de Israel. Um deles escreve, no século VII a.C., contemporâneo ao rei Josias, o seguinte:

"Como, pois, dizeis: Nós somos sábios, a lei do Senhor está conosco? Eis que em vão tem trabalhado a falsa pena dos escribas.
Os sábios foram envergonhados, foram espantados e presos; eis que rejeitaram a palavra do Senhor; que sabedoria, pois, teriam?"

Este ancião chamava-se Jeremias (o profetas). Seu protesto encontra-se em Jer. 8:8,9.

A velha máxima "vale o que está escrito" não deve ser aplicado à Palavra de Deus. Quando Jeremias protesta contra o escrever a revelação, ele quer dizer que a revelação divina é sempre contemporânea, atende a aspirações na geração que a busca, envia uma promessa que vai ao encontro dos anseios reais daquele povo naquele tempo, e portanto não deveria ser congelado na escrita para que futuras gerações fossem obrigadas a crer em promessas que já não se aplicam à sua época.

Assim eram os profetas: proclamavam dos montes e oiteiros, jamais mandavam carta ou bilhete. 

Da mesma forma os evangelhos e as cartas paulinas: não foram escritas para serem adoradas. Os seus autores jamais pensaram que dois séculos depois eles seriam considerados sagrados ou infalíveis.Eles escreveram para a sua época, direcionado às pessoas certas, aos problemas específicos. Foram escritos para orientar os novos cristãos, dar-lhes um ponto de partida na caminhada da nova "seita". A teologia foi fundada em torno destes escritos, e não estes escrito é que fundaram a teologia, ou seja, Paulo não fundou uma teologia, a teologia é que foi elaborada, ao longo de vários séculos posteriores, em torno das simples cartas paulinas.Uma diferença fundamental. 



Karen Armstrong, A Bíblia (uma biografia), p. 9/10, 29.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

As Escrituras vivas

Com a palavra, a escritora Karen Armstrong:

"Desde o princípio, autores bíblicos sentiram-se livres para rever os textos que haviam herdado e deram-lhes significados inteiramente diferentes. Exegetas posteriores apresentaram a Bíblia como um modelo para os problemas de seu tempo".


A Bíblia é a expressão da verdade, portanto não pode ser engessada por uma teologia dogmática e inquestionável, como costumam pregar as igrejas mais interessadas em perpetuar o status hierárquico de sua doutrina a discutir formas atuais de rever os princípios das Escrituras Sagradas.


Continuando com Karen:


"A Bíblia "provava" ser sagrada porque as pessoas descobriam continuamente novos meios de interpretá-la e julgavam que esse conjunto difícil e antigo de documentos lançava luz sobre situações que seus autores originais jamais poderiam ter imaginado. A revelação era um processo incessante; não ficava confinada a uma teofania (manifestação divina) distante no monte Sinai; exegetas continuavam a tornar a Palavra de Deus audível em cada geração."


As Escrituras são inspiradas não porque contêm elementos sobrenaturais ou fórmulas mágicas, mas porque podem ser interpretadas no tempo e no espaço sociocultural que a contém. Os judeus buscavam interpretar a ação de Deus à luz da revelação, criando, a partir dai, novos rumos e interpretações que mantiveram o povo unido, ao londo de tantos séculos, pela fé em Javeh.


Gosto muito do versículo "EM TUDO DAI GRAÇAS". Não significa que, ao recitá-lo, Deus vai intervir "poderosamente" em uma situação desfavorável, mas o simples pensamento e reflexão sobre estas palavras bíblicas sempre me trouxe plenitude e paz interior pelo qual jamais duvidei que estas palavras fossem inspiradas por Ele.


Finalizando com Karen:


"Quando o templo dos judeus foi destruído (primeiramente pelos babilônios, em 586a.C. e depois pelos romanos em 70d.C.), eles tiveram de encontrar uma nova maneira de descobrir shalom (completude que traz a paz) num mundo trágico  e violento (...) a cada vez a destruição levou a um intenso período de atividade de Escritura, à medida que eles procuravam a cura e a harmonia nos documentos que se tornariam a Bíblia."


Armstrong, Karen, A Bíblia (Uma Biografia), p. 11/13.


Conheça a escritora numa palestra intitulada "A perdida arte do diálogo" :


https://www.youtube.com/watch?v=Y_aRxiFJEVk