Karen afirma:
"As Escrituras judaicas e o Novo Testamento começaram ambos como proclamações orais, e mesmo depois que foram postos por escrito (após o século VII a.C. com o movimento deuteronomista do rei Josias), restava muitas vezes uma tendência à palavra falada, presente em outras tradições."
Assim nasceu a bíblia: uma tradição oral que era passada de geração em geração sem, obviamente, qualquer compromisso com exatidão ou comprovação de fatos, apenas verdades sendo incutidas nas gerações posteriores com o fim de fomentar o nacionalismo e a religiosidade da nação israelense.
Karen continua:
"(...) as pessoas temiam que Escrituras "escritas" estimulassem a inflexibilidade e a certeza irrealista, estridente. O Conhecimento religioso não pode ser comunicado, como outras informações, pelo simples exame da página sagrada."
Quando a tradição oral de Israel passou a ser colocado no "papel", ela deixou de ser uma expressão de transcendência religiosa e passou a ser um documento, um contrato, frio e inflexível. Isto, certamente, introduziu, na religião, um conceito com o qual ninguém se preocupara antes: se o que está escrito é verdade ou não, é fato ou mito.
Esta passagem (da tradição oral para a escrita) não agradou a muitos anciãos de Israel. Um deles escreve, no século VII a.C., contemporâneo ao rei Josias, o seguinte:
"Como, pois, dizeis: Nós somos sábios, a lei do Senhor está conosco? Eis que em vão tem trabalhado a falsa pena dos escribas.
Os sábios foram envergonhados, foram espantados e presos; eis que rejeitaram a palavra do Senhor; que sabedoria, pois, teriam?"
Este ancião chamava-se Jeremias (o profetas). Seu protesto encontra-se em Jer. 8:8,9.
A velha máxima "vale o que está escrito" não deve ser aplicado à Palavra de Deus. Quando Jeremias protesta contra o escrever a revelação, ele quer dizer que a revelação divina é sempre contemporânea, atende a aspirações na geração que a busca, envia uma promessa que vai ao encontro dos anseios reais daquele povo naquele tempo, e portanto não deveria ser congelado na escrita para que futuras gerações fossem obrigadas a crer em promessas que já não se aplicam à sua época.
Assim eram os profetas: proclamavam dos montes e oiteiros, jamais mandavam carta ou bilhete.
Da mesma forma os evangelhos e as cartas paulinas: não foram escritas para serem adoradas. Os seus autores jamais pensaram que dois séculos depois eles seriam considerados sagrados ou infalíveis.Eles escreveram para a sua época, direcionado às pessoas certas, aos problemas específicos. Foram escritos para orientar os novos cristãos, dar-lhes um ponto de partida na caminhada da nova "seita". A teologia foi fundada em torno destes escritos, e não estes escrito é que fundaram a teologia, ou seja, Paulo não fundou uma teologia, a teologia é que foi elaborada, ao longo de vários séculos posteriores, em torno das simples cartas paulinas.Uma diferença fundamental.
Karen Armstrong, A Bíblia (uma biografia), p. 9/10, 29.
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