segunda-feira, 31 de dezembro de 2012


O EVANGELHO DO AMOR

"Nossa experiência de insatisfação tem a ver com a negativa ou incapacidade de AMAR - e não entendamos amor, aqui, como um sentimento.

O amor verdadeiro é a saída de nós mesmos, para a qual fomos criados.
Jesus abriu nossos olhos para ver que a essência do milagre original da criação 
é o AMOR, um amor que se esforça para se expressar em todas as coisas e
transformá-las todas em si mesmas, mudando-lhes para dar-lhes forma divina.

Contudo, em vez de deixar que este Deus nos penetre para nos transformar pouco
a pouco, fechamo-nos em nossa concha, ao mesmo tempo em que 
experimentamos ali que nos falta o essencial, e nos sentimos
insatisfeitos em nossa profundidade. 

Se Deus não nos atraísse para fora, não nos sentiríamos dolorosamente divididos entre
a força gravitacional do cuidado do eu e a atração exercida pelo amor,
entre o que somos e o que Deus quer que sejamos.

A teonomia (Deus no centro de tudo) se encontra aqui com a
ideia mais tradicional do evangelho da graça, a de que o único pecado autêntico é a fixação em si mesmo, a negativa em escutar a Deus."

Pe. Roger Lenaers


sábado, 29 de dezembro de 2012

MATURIDADE 

"Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino... mas logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino." I Coríntios 13:11.

O menino vive sempre sob tutela. Suas idéias são consideradas infantis na medida em que não tem a experiência e as informações suficientes e necessárias para formar um conceito de valor sobre a vida. 

Os dois últimos séculos trouxeram grandes revoluções:

1-A humanidade atingiu a maturidade através da experiência.

Experiência adquirida das catastróficas guerras mundiais, das calamidades globais, das mobilizações sócio ambientais para preservar a diversidade cultural e a biodiversidade do planeta através de grupos de gestão compartilhada assumindo sua responsabilidade para com a conservação da vida e da sobrevivência na Terra. 

2-A humanidade atingiu a maturidade através do acesso à informação.

Nunca antes o homem teve a oportunidade de desenvolver um conhecimento de forma tão sólida por causa do acesso,  rápido e quase ilimitado, a informações que chegam ao seu lar sem restrições ou censura. O conceito básico deste conhecimento é o de que o mundo, afinal, não é tão grande, tão misterioso, tão insondável quanto se supunha a até dois séculos atrás. Os processos físico-químicos da natureza foram desmistificados, mensurados. A técnica da concepção e do desenvolvimento da vida foram descritos em pormenores.   A morte foi dissecada no laboratório, conhecendo-se sua dinâmica bioquímica: a eternidade questionada. 

A despeito te tudo isso, a humanidade desenvolveu um profundo sentimento de desesperança em relação a Deus e decepção a tudo que se relaciona às "inquestionáveis verdades" religiosas, tornando-o cético.

"logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino." Não adianta mais tentar enganar o homem com as historinhas do bicho-da-cara-preta. 

A mensagem de Jesus precisa alcançar o homem-android na mesma medida em que causou um impacto no cristão do I século. 

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

"PORQUE DEUS AMOU O MUNDO..."


Nosso código de valores e conceitos modernos são pautados na ciência, na experimentação, na técnica, e não mais na natureza, nos símbolos mitológicos inspirados na visão heteronômica (terra=pecado, morte, dor; céu=salvação, vida, prazer).

No século XVI, com o surgimento do humanismo (que deu origem aos ideais iluministas do século XVIII), ousou-se protestar, confrontar este modelo. Lutero e Calvino desafiaram a inquisição defendendo que Deus, e Seus benefícios, são por GRAÇA, e não por méritos ou indulgências.

Qual o formato que deve ter o evangelho neste século? Que representações traduzirão, efetivamente, a mensagem divina na linguagem do homem "virtual"?




quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

AMOR.

Amor foi a mensagem de Jesus: "Se amardes aos homens...", "Amarás ao Senhor teu Deus..."

A mensagem do evangelho é o amor: "Deus é amor...", "Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, se não tivesse Amor..."

A mensagem entendida pelos cristãos do I século era o amor, simples e suficiente. Repartiam tudo, comiam juntos, cuidavam dos enfermos, não tinham igrejas - apenas comunidades e cultos domésticos.

Cristo não promulgou doutrina, não deixou um "evangelho segundo Jesus", não produziu teologia nem tratados de fé... só nos trouxe uma mensagem: AMAI-VOS UNS AOS OUTROS, assim como EU vos amei!

Quem ama, é livre!

Será essa A VERDADE que devemos conhecer, o alicerce que poderá nos LIBERTAR de séculos de mitos e fantasias, nos conduzindo ao evangelho puro da genuína nascente da Água Viva?


"... O MAIOR DESTES, É O AMOR".



domingo, 9 de dezembro de 2012

RESSURREIÇÃO

"Para expressar, no século XXI, com um olhar de fé e, portanto, com sentido, o fato ocorrido com Jesus de Nazaré em sua morte, o crente da modernidade precisa de uma linguagem nova, pois a do passado, incluindo a expressão ressurreição, é o resumo de uma visão do homem e do mundo distinte da nossa.

Se nossa linguagem pretende ser autêntica e libertadora, deve originar-se da maneira atual de compreender o ser humano e o mundo.

A linguagem autêntica naquele tempo, que abria os olhos e permitia ver a luz na morte de Jesus, pode já não ser mais autêntica hoje - e despertar, em muitas pessoas, mais contradição do que aprovação. Pois expressa, antes de tudo, a visão do homem e do mundo da Igreja primitiva." (1)

Desde que a ciência explicou os processos bioquímicos demonstrando que vida é um conceito uno (corpo e alma) e que a consciência só pode existir se o cérebro estiver ativo, o cristão moderno precisa interpretar ressurreição como uma renovação do espírito, a adoção do novo homem que ama, uma mensagem de esperança na vida, e não na morte.
Quem espera recompensa em um mundo distante do nosso, perde a oportunidade de ressuscitar todos os dias, do engano para a luz, da mentira para a verdade.


(1) LENEARS, Roger. "Outro cristianismo é possível", Ed.Paulus, p.139


Ressurreição, um ato simbólico para comunicar que Ele vive?

sábado, 8 de dezembro de 2012

DE VOLTA ÀS ORIGENS

Lançar um olhar sobre o cristianismo anterior ao século IV, poderia nos conduzir à essência da mensagem de Jesus de Nazaré.

Jesus foi um judeu simples (filho de carpinteiro) que trouxe uma mensagem simples a um povo simples.

Se o imperador romano Constantino não tivesse percebido, nesta simples mensagem e no efeito que ela produzia naqueles que a ouviam, uma oportunidade de unificar seu reino e reconquistar seu domínio sobre o império, provavelmente nem saberíamos da existência deste homem Jesus. Se esta, porém, foi uma providência divina ou um mero capricho humano, apenas a experiência da fé de cada cristão poderá responder.

Naquela época (século I ao IV), não existiam os inquestionáveis fundamentos sobre os quais se assenta a chamada teologia cristã ortodoxa: o Messias sofredor, a divindade de Cristo, a Trindade, a existência de céu e inferno.

Graças às recentes descobertas da arqueologia, sabemos que existiam muitos grupos de seguidores de Cristo (cada um com seus escritos) que interpretaram os ensinamentos do Mestre de forma diversificada, fora da visão ortodoxa da igreja romana, expressando sua interpretação particular sobre a pessoa de Jesus e Sua proposta redentora para a humanidade.

A despeito de estarem certos ou errados, estes grupos apresentavam uma interpretação baseada na medida da sua fé e serviço sinceros ao Messias.

Eram cristãos judeus, no início, interpretando a salvação associada aos preceitos do judaísmo (que tem no Evangelho de Marcos seu representante)  antes da chegada dos cristãos helênicos e sua visão mitológica do mundo, com seus deuses, seu conceito filosófico de que a vida é possível após a morte do corpo (visão esta não compartilhada pela doutrina judaica na qual o Messias prometido irá ressuscitar corpo e alma).


Concílio de Nicéia - 325 d.C.

domingo, 2 de dezembro de 2012

A VIDA VEM DA ÁGUA

Seis séculos antes de Cristo, o filósofo Tales de Mileto (640-550 a.C.), considerado como o primeiro homem a propor uma explicação racional para a origem da vida fora das teorias misticas, quando perguntado de onde teria vindo a vida, declarou que esta veio da água antecipando, em cerca de 2400 anos, a teoria evolucionista de Darwin.

Como primeira proposta de uso do pensamento livre como instrumento de investigação das questões existenciais, Tales, assim, inaugurou a era dos filósofos gregos.

Este, talvez, tenha sido o primeiro grande passo dado pelo pensamento na tentativa de lançar um pouco de luz às trevas do obscurantismo e superstições que durante 1500 anos esteve preso ao conceito heteronômico (céu = Deus, verdade, providência, redenção; terra = diabo, mentira, desesperança, pecado)  que dominou a doutrina da fé.


terça-feira, 27 de novembro de 2012

DEUS NO CENTRO!

Existem 3 conceitos básicos que melhor expressam a relação do homem com Deus, historicamente:

HETERONOMIA (héteros=outro; nomos= leis) Neste período, que tem início na antiguidade até meados do século XVI, prevalece a idéia da existência de "outro" mundo, acima do nosso, distante, de onde provêm toda a revelação de Deus, portanto imutável, infalível, inquestionável. É deste mundo que "descem" os preceitos, as leis e os dogmas estabelecidos pela santa igreja. Sob esta concepção são estabelecidas as bases da ortodoxia: hierarquia, indulgências, estrutura de poder, infalibilidade papal. A piedade divina se revela "do céu" para trazer salvação aos miseráveis que vagam perdidos e cegos "na terra".

AUTONOMIA (autós=própria; nomos= leis) A partir do século XVI, com o humanismo, a evolução das ciências e, posteriormente, o iluminismo, o homem passa a reivindicar seu direito de ser agente de seu destino; descobrir, questionar, ousar. Muitos dos fenômenos físicos que se acreditava piamente ser a manifestação da ira de Deus (como o raio e o trovão) era, na verdade, um processo da natureza perfeitamente mensurável. A idéia de "céu", habitat dos anjos e demônios, já não encontra mais lugar no pensamento racional desta época. Ao invés de um diálogo entre a fé e a razão, esta fase inaugura sua inimizade histórica com a recusa, da igreja, em aceitar rever seus dogmas infalíveis que lhe valeram a posição de autoritarismo e poder absoluto.

TEONOMIA (théos=deus; nomos=lei) É considerado o pensamento moderno. Após abandonar a velha fórmula da ação divina à partir de um mundo "acima" do nosso, assim como a tentativa da ciência em negar a fé na existência e ação de Deus, a teonomia concebe a idéia de que Deus não está longe (no céu) e nem fora dos processos da vida, mas no CENTRO de toda ação: "Ele é o núcleo criador mais profundo de todo processo cósmico."(1)





(1) LENAERS, Roger - "Outro cristianismo é possível - a fé em linguagem moderna", ed. Paulus, p.27

sábado, 24 de novembro de 2012

BÍBLIA, BIBLIOTECA!

Alguns textos bíblicos não coincidirem no relato de certos episódios relativos a Jesus. Eles até se contradizem algumas vezes.

Há um grande distanciamento histórico-cultural entre o período em que foram escritos cada livro e deles em relação ao seu personagem principal: Jesus:

1-As Cartas de Paulo, escritas cerca de 50 d.C.
2-Evangelho de Marcos, 65 d.C.
3-Evangelhos de Mateus, Lucas e os Atos dos apóstolos, 80 d.C.
4-Evangelho de João, entre 90-95 d.C.

Estes autores não escreviam a "bíblia" como a conhecemos hoje, mas apenas cartas de recomendações, impressões pessoais de relatos ouvidos das tradições que circulavam pela palestina muito tempo depois de Jesus ter morrido. 

Eles viviam fora da palestina (eram gregos ou romanos), falavam uma língua diferente daquela do tempo de Jesus (aramaico) e tinham uma visão helenizada do mundo (mitológica, filosófica), diferente da visão judaica original.

Ler a bíblia, portanto, deve ser considerá-la um conjunto de escritos destes autores com suas visões,    pontos de vista e propósitos diferentes (sem qualquer compromisso em serem compêndios de história da vida e religião de Jesus, como não poderia deixar de ser), baseados nas tradições orais de diversos grupos cristãos de analfabetos, pobres, humilhados e oprimidos pelo império romano e sem qualquer expectativa quanto ao seu futuro e de suas famílias, que professavam sua fé em princípios entendidos como os mais próximos que se poderia entender da essência da proposta do Mestre para a sua salvação.

É tarefa do cristão moderno entender a revelação da mensagem de Cristo, registrada de forma muito pessoal por estes autores, e descobrir a verdade escondida por trás da mitologia, da cultura de época, que não encontram mais lugar na modernidade, mudando o foco dos símbolos do passado e colocando-o na essência por trás destes símbolos.

O cristão deve "prosseguir em conhecer Jesus... sempre".


sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A BÍBLIA HISTÓRICA

"Em quase todos os principais seminários protestantes (e agora católicos), a Bíblia é abordada segundo o método chamado de "histórico-crítico". É algo completamente diferente da interpretação "devocional" da Bíblia aprendida na igreja"(1).

Sempre me devotei a ler a bíblia como um "oráculo", a revelação inequívoca de Deus mostrada em cada letra e cada vírgula.

Nunca havia me permitido questionar se Deus poderia ter inspirado Sua mensagem JUNTO com o homem (horizontalmente) e não DE CIMA PARA BAIXO (verticalmente), como era a visão da igreja ortodoxa a partir do IV século e que prevaleceu, ostensivamente, durante toda a idade média para justificar a doutrina da infalibilidade da grande igreja e seus prelados.

É comum os devotos abrirem a bíblia, ao acaso e como se fosse um sorteio, e dizerem que a página onde abriu tem uma revelação de Deus para resolver um problema em particular, ou um pedido ansiosamente aguardado, ou ainda uma benção especial. Outros se fixam apenas nas promessas e nos poemas.

Talvez, para a maioria dos cristãos hoje, essa forma de leitura seja suficiente pois vêm ao encontro de suas necessidades imediatas, mas para quem busca na Escritura a VERDADE, não deve ser assim.
A leitura segundo uma perspectiva histórico-crítica revela uma bíblia muito mais rica, mais diversificada, mais reveladora do Amor de Deus do que a leitura exclusivamente devocional.

Os cientistas não param de pesquisar, descobrindo novas formas de cura das doenças, do aumento da expectativa de vida do homem moderno, de enxergar o universo como um maravilhoso campo de inteligência e perspectiva para melhorar a vida.

Porque não fazer o mesmo com a mensagem do evangelho?

(1) EHRMAN D. Bart, Quem foi Jesus? Quem Jesus não foi? - Ediouro, p.16

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A VERDADE SEMPRE LIBERTA!

Sempre lemos os textos bíblicos: "CONHECEREIS A VERDADE, E A VERDADE VOS LIBERTARÁ" e "Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e SERÁ PARA SEMPRE".

Muitas vezes falamos que o Novo Testamento é o evangelho da salvação. Ora, a palavra "evangelho" significa BOAS NOVAS, algo novo, um testemunho de uma novidade BOA.

Porém tenho me perguntado se tem sido desta forma que o evangelho tem sido encarado no presente século. As perguntas na verdade são: 1. os símbolos e imagens do evangelho são adequados aos tempos modernos? Sua linguagem, como expressão de uma cultura e costumes de época, têm sido realmente apreendida como válida?

O evangelho é o porta voz do recado de Deus para as necessidades humanas, logo este recado deve ser sempre adequado ao contexto histórico de seu interlocutor, em outras palavras, o evangelho não pode ser aprisionado em uma época, uma cultura e tradições que findaram a centenas de anos. Ele deve ser requalificado, limpo, revisto e atualizado.

VERDADE É CAMINHO, NÃO DESTINO!
Pereira