Diversas culturas antigas associam as águas (principalmente o mar) ao princípio do caos.
Desde os Sumérios (3.500 a.C.), passando pela Babilônia, vários mitos que tentam explicar a criação emergem de uma tensão entre o caos e a ordem.
Na mitologia mesopotâmica, os primeiro a serem criados foram os deuses (a partir do que os antigos denominaram "elemento primordial", uma espécie de matéria-prima elementar).
Os primeiros deuses criados foram:
-Tiamat (Oceanos);
-Psu (o Abismo);
-Mummu (Caos).
Posteriormente outros deuses se sucederam progressivamente até o deus supremo chamado de Marduc (o Deus Sol).
Marduc entrou em guerra com Tiamat (o Oceano).
Vencido Tiamat, seu corpo foi dividido em duas partes, dando origem ao Céu e à Terra, criando posteriormente o homem a partir da mistura do sangue de um dos deuses vencidos com pó da terra (bem familiar, não é?).
O mito da ÁGUA (mar) como representação do caos a partir da qual a vida e a ordem emanam está presente não apenas na cultura judaica como em toda a escritura sagrada, senão vejamos alguns exemplos:
-A vida surge das águas (Gêneses)
-O dilúvio (Gêneses)
-Travessia do Mar Vermelho (Êxodo)
-A conquista da terra prometida após a travessia do Rio Jordão (VT)
-Jonas, em desobediência, cai no Mar e é engolido pelo monstro (Jonas)
-O servo que se banha nas águas e fica curado (VT)
-O batismo de João Batista nas águas (Evangelhos)
-Jesus anda sobre as águas (Idem)
-Jesus acalma a Tempestade no mar (Idem)
-A Besta que surge do mar (Apocalipse)
Dos termos destacados acima (em negrito) podemos apreender que ÁGUA no contexto bíblico, pode ser associado a: vida, travessia, conquista, cura, renovação (batismo), poder, tranquilidade. Mas também pode ser associado a elementos do caos: dilúvio, desobediência, o mal (Besta).
Esta explanação nos mostra uma coisa: o Gêneses bíblico encontra paralelo nos mitos das culturas mais antigas que povoaram a região da mesopotâmia, desfazendo a ideia de sua exclusividade e originalidade.
Não há, no entanto, qualquer desmerecimento, pelo contrário: mostra que Israel estava integrada à cultura de sua época até a adoção do monoteísmo; o mito era a melhor forma de transmitir verdade (associada a uma vivência ritualistica muito marcante para a comunidade) no mundo pré-moderno (portanto, pré-científico, pré-racionalista).
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